O medo é uma forma eficaz de controle. 

O filósofo e sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017) escreveu em seu livro “Medo Líquido” que os seres vivos sempre apresentam algum tipo de receio.

Aos humanos, acrescentam-se os “medos derivados”

uma sensação de vulnerabilidade e de insegurança que não depende de uma ameaça direta. 

São resquícios de experiências vividas por nós ou que testemunhamos em notícias, história oral e toda a variedade dos produtos culturais que nos apresentam o mundo com os seus vários perigos.

Com isso, criamos um medo que, em termos racionais, não se justificaria em muitos contextos, porque a ameaça real não existe.

Diante desses medos imaginários, aceitamos restringir nossa liberdade.

Aliás, passamos a entregá-la de bom grado.

Os golpes sempre contaram com o fantasma dos pavores coletivos: no Brasil (1937 e 1964), na Argentina (1966 e 1976), no Chile (1973), o medo embasava ditaduras de direita e ajudava a prolongar a vida de governos autoritários de esquerda. 

Stalin e Pinochet sabiam que uma população apavorada era submissa.

ascemos, crescemos e morremos sob a longa penumbra dos nossos anseios e inseguranças.

Os perigos reais e imaginados dialogam e multiplicam-se em associação fértil.

Os que ousam podem ser punidos com algum desastre e são usados como exemplo pela nossa zelosa acomodação.

Somos (ou ao menos eu sou) indivíduos profundamente covardes. 

Todos os dias, eu recebo vídeos nos grupos de WhatsApp mostrando novos golpes, riscos maiores e violências variadas. 

O “lar doce lar” é tomado de riscos de acidentes, a rua se tornou um campo minado que necessita de couraças cada vez mais pesadas, as relações são arriscadas e as festas contêm armadilhas.

Respiramos medo.

Amuletos, medalhas e cristais para alguns; livros de autoajuda para outros, treinamento incessante para os que traduzem sua angústia em qualificação eterna.

Muitos são os recursos e todos apresentam alguma falha. Não existe magia ou ação absolutas para a segurança.

Os riscos existem. O que nos mata é que, além do desafio real, existe o medo macerado, curtido, decantado e orgânico, os medos derivados possuem autopropulsão.

Aceitamos cada vez mais câmeras, raios X, revistas, portas giratórias que trancam, pois sabemos que tais medidas podem nos proteger. 

O medo cala e solapa o edifício da liberdade.

Há alguns anos, decidi assumir uma dupla atitude:

1. Tomo medidas pragmáticas.

Evito lugares mais perigosos, horários com mais problemas ou ostentação de celular na calçada.

Faço seguros, observo como está a rua antes de sair do carro, reforço trancas e alarmes em casa. Realizo exames médicos preventivos.

Tenho esses cuidados bem práticos e efetivos. Mas diria que a segunda atitude é ainda mais eficaz…

2. Não viverei para o medo. Os riscos estão ao meu redor, tento saber deles e evito viver para eles. 

É um pouco da atitude de Ulisses na Odisseia: sei das sereias que atraem marinheiros aos rochedos, continuo querendo navegar e conhecer, mesmo amarrado ao mastro do navio. 

O ato aristotélico de coragem é avançar consciente do medo.

É inevitável, Leitor: o medo faz parte da natureza humana e é fundamental que possamos refletir sobre como reagimos a esse sentimento, afinal, aquilo que tememos nos controla.

Mas será possível lidar com esse sentimento e usá-lo a meu favor?

Felizmente, sim! E o professor Karnal falou justamente sobre isso em um dos vídeos mais recentes do “Prazer, Karnal”:

Um abraço fraterno.

LK e Equipe K.

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