
Mário de Andrade, em Macunaíma, ironizava a pretensão das elites brasileiras. Era 1928.
Em determinado momento da obra, na Carta Pras Icamiabas, o autor imita um estilo um tanto parnasiano e bacharelesco (cita, nominalmente, o falecido Rui Barbosa) e se espanta com a opulência linguística paulistana que “fala numa língua e escreve noutra”.
Era uma crítica ao abismo entre a oralidade e as formalidades da escrita. E também à pretensão, na insistência de regências lusitanas e na busca de latinismos empoados.
Por muito tempo, o valor de alguém era medido pela riqueza vocabular, precisão e estilo erudito.
Fulano era culto, dominava mesóclises, evitava barbarismos, contrariava o uso corrente e empregava palavras raras em orações com inversões sintáticas.
Era um distintivo social, uma forma de exclusão mais do que de comunicação.
Por que dizer que o cachorro era de pelo castanho se poderíamos falar em pelo tanado?
Uma casinha parália era melhor do que uma à beira-mar. Da varanda da dita casa, excitaríamos a osfresia com o roçar talassocrático, distantes da algaravia dos grazinas urbanos.
Mudam-se os tempos e mudam-se as vontades.
Hoje, falar assim faz você perder a entrevista de emprego, afasta pessoas – assustadas com seu engrimanço (linguagem obscura) – e, na insistência, isola o neoparnasiano.
Não se trata apenas de vocabulário. A ordem da frase, o uso de orações subordinadas, tudo foi transformado. A maior evidência é a dificuldade com o Hino Nacional Brasileiro, calcado em outra estética e inacessível em seu sentido para a maioria absoluta dos brasileiros.
Voltemos à Mário. À época do autor de Macunaíma, havia uma luta para que o português falado pelos brasileiros pudesse incorporar o uso corrente sem ficar prestando genuflexão a formas arcaicas ou em desuso.
O brado era: vamos ouvir como se fala nossa língua nas ruas sem ficar tentando julgá-la. Tinha imenso sentido para evitar o “preconceito linguístico”, quase sempre máscara de demofobia, de horror ao povo e aos pobres, em particular.
Hoje, acima de tudo, no coloquial livre ou no formal profissional, todos devem ter clareza da adequação e da precisão dos termos empregados. Todos estamos aprendendo sobre a língua portuguesa, sempre.
Arrogância ao corrigir alguém são insegurança e dor pessoal.
O tempo vai eliminar algumas expressões, apagar (ou seria deletar?) textos e autores, exaltar outros e criar novas formas. Não temos duas línguas (oral e escrita): possuímos inúmeras.
A língua é viva e não pertence a uma pessoa. Quanto mais eu conseguir aprender, mais longe vejo e mais alcanço.
#RecadoDaEquipeK
Assim como a linguística foi usada por muitos anos pela elite como forma de distinção de classes e refinamento, hoje, a “cultura” é frequentemente usada como sinônimo de erudição, um álibi usado por quem torce o nariz para manifestações populares.
Mas existem fundamentos ao colocar concertos de Beethoven como superiores ao samba, carimbó ou maracatu? Onde começa e onde termina a cultura?
Partindo desses questionamentos, o professor Leandro Karnal recebeu o ícone Ney Matogrosso para uma interessante conversa sobre cultura brasileira.

Para se aprofundar ainda mais na discussão, Karnal também participou da gravação de um clipe de funk.
O resultado disso tudo você confere no “Universo Karnal” deste sábado. Sim, Leitor, o programa será imperdível!
Nosso encontro: sábado, 13/08, às 23h, no CNN Soft, na TV ou no canal do Youtube.
Ah, fica aqui nosso segundo convite:
Se perdeu ou quer assistir de novo os episódios do Universo Karnal, está tudo no canal da CNN Soft no Youtube:
#KarnalIndica
Leitor, você já ouviu falar no Museu Lasar Segall?
Segall foi um importante pintor lituano que viveu grande parte de sua vida no Brasil. É considerado um dos principais nomes que representam a Arte Moderna Brasileira, com contribuições como: “Refugiados” (1922), “Bananal” (1927), “Menino com Lagartixas” (1924) entre esculturas e ilustrações.
No último vídeo da série “A arte de ver o invisível”, convido você a acompanhar uma visita pela intimidade de Segall e a descobrir a relevância do museu e do próprio artista para o cenário cultural brasileiro e internacional.
Para assistir à série, clique no botão abaixo:
Tenha um excelente fim de semana, Leitor!
LK e Equipe K






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