
Começo este e-mail, Leitor, recordando de um fato.
Lembro-me de assistir a um elaborado show de elefantes adestrados na Tailândia.
Como de hábito, toda a plateia fotografava incessantemente.
De repente, uma das minhas colegas de viagem advertiu:
“Não publiquem fotos de animais em shows ou sendo usados dessa forma! Causam muitas ‘descurtidas’.”
A frase caiu como uma bomba.
Sim, o show seria visto, aplaudido, apreciado, porém… não poderia ser publicado nas redes.
Posts politicamente incorretos causam uma explosão atômica capaz de destruir todo o esforço e as conquistas de marketing.
Afinal, imagem tem valor de mercado.
Partindo desse ponto, vamos aprofundar e refletir sobre a ética do espaço virtual.
O império da virtude é saudável, ainda que contenha um traço maquiavélico de parecer em vez de ser. Todos viramos a mulher de César necessitando alardear o correto.
Ainda assim, é fundamental conter discursos de ódio. E ter consciência de que palavras e imagens podem estimular violências físicas concretas.
O primeiro passo de todo genocídio é a piada infame.
Antes de uma mulher ser espancada, a música, a propaganda, o humor, o debate de bar, em algum momento, construíram discursos de esvaziamento da dignidade feminina.
As palavras machucam antes do sopapo.
Não há como usar o argumento de liberdade de expressão diante de crimes, como racismo ou violência contra a mulher.
Aumentamos nosso zelo sobre afirmações, músicas e humor.
O medo e o ódio perderam o passaporte universal e passaram a preferir outras máscaras.
Eu não posso dizer (e insisto, é correto que não possa) que tenho uma ideia preconceituosa (contra a região Nordeste ou contra gays, por exemplo).
A fala não pode mais ser tão livre como era até ontem. Pois essa “fala livre” carregada de preconceitos aprisiona – e mata – quem dela é vítima.
O discurso de ódio faz uma marca perder clientes e uma pessoa perder o emprego.
A mente preconceituosa, obsoleta, ainda não morreu. E a nova, isenta de preconceitos, está por nascer.
Surge uma paralaxe, uma separação entre sentimento e fala.
No momento em que racistas, homofóbicos, misóginos e outros quejandos não podem mais expressar seu ódio de forma tão aberta como antes (pela lei ou pela vigilância pública das redes), eles passam a evidenciar uma adesão aparente ao correto.
Internamente, não tendo existido o consenso, mas apenas o medo e a coerção, em vez de afirmar de forma inaudível seu protesto, o preconceituoso passa a usar perfis anônimos para demonstrar a barreira entre o público e a crença interior.
A internet oferece o anonimato sombrio e covarde, propiciando que os ódios mais tenebrosos possam encontrar um lugar ao sol.
No anonimato das redes, os preconceituosos encontraram um nicho úmido para que sua faceta covarde continue germinando.
O ódio permanece, mesmo quando proibido pela lei ou desestimulado pelo politicamente correto.
Conseguiremos estimular o consenso sem usar da coerção?
#RecadoDaEquipeK
Nas redes sociais, nas ruas e nos espaços públicos: infelizmente o preconceito está em todos os lugares.
Leitor, no Brasil, 7 em cada 10 crimes de ódio são originados do preconceito racial.
Outros 14% dos crimes têm origem na homofobia e na transfobia – preconceitos referentes à orientação sexual e à identidade de gênero.
Além disso, 10% dos crimes no país são motivados por preconceito de gênero em relação às mulheres.
Orientação sexual, raça, gênero, religião, cultura, peso, deficiências físicas… tudo é alvo de preconceito.
A lista de ações discriminatórias que o ser humano é capaz de cometer é longa. Pior: essas atitudes podem ter consequências fatais.
O assunto é sério, Leitor.
E no episódio do Universo Karnal deste sábado (06/08), o professor Leandro Karnal convida você a refletir sobre isso.
Durante o programa, Karnal visita um restaurante de comida africana de São Paulo e conversa com o camaronês Chef Sam sobre racismo e xenofobia, preconceitos sofridos por imigrantes negros no Brasil.
O episódio vai ao ar neste sábado, 6 de agosto, às 23h, no canal CNN Brasil pela TV, e no YouTube do CNN Soft.

Não vai perder esse encontro, né?
Um grande abraço,
LK e Equipe K.






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